A crescente demanda global por produtos de origem sustentável exige que as empresas reportem de forma transparente os critérios de sustentabilidade na produção, processamento e nas matérias-primas. Diante dessa realidade, as certificações que atestam essa conformidade ganham cada vez mais importância.
O ISCC é uma certificação agrícola que pode ir além da obrigatoriedade, proporcionando diversos benefícios estratégicos às organizações. A norma incentiva uma economia na qual a biomassa e outras matérias-primas sejam produzidas de forma ambiental, social e economicamente sustentável.
Além de fortalecer o compromisso com as reduções de emissões de CO₂ e a proteção de florestas e recursos naturais, as certificações ISCC promovem a circularidade e aumentam a rastreabilidade. Considerando a capacidade do Brasil de produzir etanol e inúmeras matérias-primas voltadas para a economia de baixo carbono destinadas a diversos países, a ISCC é uma importante porta de entrada para mercados estratégicos.
O que é a certificação ISCC?
A Certificação Internacional de Sustentabilidade e Carbono (ISCC) é um sistema voluntário e com reconhecimento global que abrange todas as matérias-primas sustentáveis, como biomassa (agrícola e florestal), resíduos em geral, materiais circulares e energias renováveis. O padrão baseia-se nos princípios da economia circular, possibilitando a rastreabilidade em toda a cadeia de suprimentos e a verificação de padrões ambientais e sociais (ESG).
O ISCC é um padrão que promove o não desmatamento, fortalecendo o compromisso das indústrias com a proteção de florestas, terras com alto estoque de carbono e biodiversidade. O objetivo é garantir que a biomassa e outras matérias-primas sejam produzidas de forma sustentável, em linha com as práticas de ESG.
Criada em 2006 com o intuito de definir um sistema único e transparente para a certificação de biomassa e bioenergia, o ISCC também visa fornecer evidências claras da mitigação de gases de efeito estufa (GEE). Assim, tornou-se um dos principais padrões independentes do mundo, sendo reconhecido pela Comissão Europeia em 2011.
Mais de 50 mil certificados já foram emitidos em mais de 130 países, fazendo do ISCC um dos principais sistemas de certificação do planeta. Além disso, é o padrão mais conhecido no que diz respeito aos tipos de biomassa e resíduos sustentáveis. O sistema foi criado por meio de uma iniciativa multissetorial liderada por uma associação que reúne mais de 300 membros, incluindo institutos de pesquisa e ONGs.
A Associação ISCC (ISCC e.V.) é o órgão alemão sem fins lucrativos responsável pelo desenvolvimento e atualização dos padrões, enquanto as auditorias são realizadas por organismos de certificação independentes e acreditados. Por meio da certificação, as empresas podem comprovar, em suas cadeias de suprimentos, o cumprimento de protocolos e processos de alto rigor, auditados de forma independente.
Modalidades ISCC
As modalidades da certificação ISCC (International Sustainability and Carbon Certification) consistem em um conjunto de padrões que promovem a sustentabilidade em toda a cadeia de valor — da produção de matérias-primas ao produto final. A norma ISCC avalia não somente critérios ecológicos, mas também aspectos sociais e econômicos.
Conforme a matéria-prima ou aplicação, há diferentes modalidades no sistema ISCC:
1. ISCC: padrão Base
A certificação ISCC (Base) estabelece os requisitos gerais de sustentabilidade e critérios de balanço de massa para biomassa e materiais de origem biológica. O padrão enfatiza a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) ao longo da cadeia de valor, o uso sustentável da terra, a proteção de habitats naturais e a responsabilidade social na produção de matérias-primas.
Matérias-primas certificadas
Todas as matérias-primas sustentáveis, incluindo biomassa agrícola e florestal (como cana-de-açúcar, milho), óleos vegetais (como óleo de cozinha usado, milho, soja, palma, canola e algas), resíduos e biorresíduos (como glicerina bruta, sebo e outros resíduos biogênicos industriais ou agrícolas), materiais de carbono reciclado, entre outros.
Quem pode obter
Desde produtores agrícolas, fazendas, usinas de processamento, comerciantes, transportadoras, distribuidores e empresas que utilizam a biomassa como matéria-prima final. Também podem se certificar participantes dos setores de rações e alimentos, embalagens, produtos químicos, farmacêuticos, plásticos, combustíveis e aviação.
2. ISCC EU: foco na União Europeia
A Certificação ISCC EU é focada no cumprimento dos requisitos da Diretiva de Energia Renovável da União Europeia, atualmente regida pela RED III (Diretiva (UE) 2023/2413), que substitui a RED II (Diretiva (UE) 2018/2001). Esta certificação é obrigatória para biocombustíveis e biolíquidos comercializados na União Europeia e foi aprovada pela Comissão Europeia como um sistema válido para a certificar combustíveis sustentáveis e produção de eletricidade, conforme critérios de sustentabilidade e redução de GEE definidos pela RED III. A partir de 21 de maio de 2025, todas as auditorias ISCC EU devem seguir os requisitos da RED III. Certificados emitidos sob a RED II continuam válidos até sua data de expiração.
O padrão permite comprovar que a biomassa, os produtos derivados e os biocombustíveis são produzidos de forma sustentável e responsável ao longo de toda a cadeia de suprimentos, garantindo o acesso ao mercado europeu. O foco regulatório do ISCC EU está diretamente alinhado às políticas da União Europeia para energias renováveis, com a RED III adotada para fortalecer a legislação anterior sobre o tema.
Matérias-primas certificadas
Biomassa, produtos de biomassa e biocombustíveis.
Quem pode obter
Empresas envolvidas na cadeia de produção e processamento de biomassa e biocombustíveis, com foco no mercado da União Europeia.
3. ISCC PLUS: Ampla Aplicação Global
A certificação ISCC PLUS é uma extensão do sistema ISCC, voltada para uma gama mais ampla de mercados e aplicações. Trata-se de um regime voluntário, com aplicação global, destinado a produtos não energéticos na Europa e a produtos energéticos fora do mercado europeu. Seu enquadramento está alinhado ao Acordo de Paris, ao Pacto Verde Europeu e ao Plano de Ação para a Economia Circular.
O ISCC PLUS abrange aspectos da economia circular e dos produtos de base biológica, incluindo alimentos, rações, produtos químicos, plásticos, embalagens, têxteis e matérias-primas renováveis. A certificação atesta que as matérias-primas são de origem sustentável — incluindo aquelas com balanceamento de massa — e permite o cálculo e a transferência das emissões de CO₂ ao longo da cadeia de valor.
Matérias-primas certificadas
Todos os tipos de matérias-primas agrícolas e florestais, resíduos e biorresíduos, matérias-primas renováveis e materiais fósseis que contribuem para a economia circular e a bioeconomia.
Quem pode obter
Empresas envolvidas na cadeia de suprimentos de matérias-primas sustentáveis, recicladas e de base biológica.
4. ISCC CORSIA: Combustíveis de Aviação Sustentáveis (SAF)
A Certificação ISCC CORSIA está vinculada à produção de Combustíveis de Aviação Sustentáveis (SAF) que atendem aos requisitos do programa CORSIA (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation).
Desenvolvido pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), o CORSIA é um instrumento global voltado à redução das emissões de GEE na aviação. O programa define padrões para a compensação de CO₂ em voos internacionais e o cálculo das reduções de emissões por meio do uso de combustíveis elegíveis. O padrão é reconhecido como um sistema válido para demonstrar conformidade com esses critérios de sustentabilidade.
O programa CORSIA busca contribuir com a mitigação das mudanças climáticas, definindo limites de emissões com base nos níveis de 2020 e promovendo um crescimento “carbono neutro” a partir desse ano. Ao permitir a redução efetiva das emissões, o SAF diminui a necessidade de compensações por parte das companhias aéreas, como a compra de créditos de carbono.
Um combustível renovável produzido a partir de biomassa ou resíduos que atenda aos critérios de sustentabilidade do CORSIA pode ser misturado ao combustível fóssil, sem que haja necessidade de adaptações na infraestrutura ou das aeronaves.
Matérias-primas certificadas
Biomassa agrícola e florestal (como cana-de-açúcar, milho), óleos vegetais (como óleo de cozinha usado, milho, soja, palma, canola e algas), resíduos e biorresíduos (como glicerina bruta, sebo e outros resíduos biogênicos industriais ou agrícola), Combustíveis Renováveis de Origem Não Biológica (RFNBOs), materiais de carbono reciclado, entre outros.
5. Baixo Risco de Mudança Indireta no Uso da Terra (Low ILUC risk)
O ISCC Low ILUC Risk (Baixo Risco de Mudança Indireta no Uso da Terra) é um complemento voluntário, que reconhece matérias-primas produzidas com práticas agrícolas que evitam a conversão indireta de áreas naturais. Esse requisito permite comprovar conformidade por dois principais caminhos: a Abordagem de Aumento de Rendimento (melhoria de práticas agrícolas em terras fixas) e a Abordagem de Terra Não Utilizada (uso de terras marginais, abandonadas ou severamente degradadas)
Como obter a certificação ISCC?
O processo geral de preparação para obtenção das certificações ISCC incluem as seguintes etapas:
- avaliação inicial;
- implementação de requisitos;
- auditoria interna;
- auditoria externa; e
- certificação.
O primeiro passo para uma empresa que deseja a certificação é se cadastrar no ISCC e preencher o formulário de inscrição. Em seguida, a certificadora organiza os procedimentos técnicos, que se dividem em análise documental, entrevista com membros da companhia e visita técnica.
Caso seja aprovada em auditoria, a empresa avaliada recebe o certificado. É importante destacar que a certificação pode ser revalidada anualmente. Empresas classificadas como de alto risco pelo ISCC são monitoradas durante o primeiro ano.
Antes de iniciar essas etapas, é essencial que a empresa se prepare adequadamente para garantir o sucesso na obtenção da certificação. Isso inclui a coleta e organização de dados e documentos que comprovem a conformidade com os critérios exigidos.
Muitas empresas enfrentam desafios nessa fase, como:
- Complexidade dos critérios;
- Necessidade de sistemas de gestão robustos; e
- Dificuldade de comprovação de dados específicos.
Vantagens da ISCC
Com a certificação, as organizações ficam aptas a fornecer matérias-primas para diversos mercados estratégicos. Entre as principais estão:
- Comprovação de compromisso com o meio ambiente e a sustentabilidade da cadeia de abastecimento;
- Responsabilidade social (redução das emissões de CO₂, uso verificável de suas matérias-primas e transparência);
- Cadeia de abastecimento totalmente certificada;
- Melhoria na reputação e a imagem da marca;
- Acesso a novos mercados, nacionais e internacionais;
- Redução de custos com certificação por meio de componentes adicionais;
- Rastreabilidade completa da cadeia de abastecimento;
- Resultados validados por verificação independente;
- Transparência na comunicação com clientes;
- conformidade com a Diretiva da UE (RED II) para biolíquidos; e
- Documentação clara dos critérios de sustentabilidade agrícola.
Como a Geoambiente pode ajudar?A Geoambiente é uma parceira estratégica especializada na obtenção da certificação ISCC. Para verificar os critérios específicos de cada modalidade da certificação, a empresa utiliza tecnologias de Sensoriamento Remoto e soluções geoespaciais para realizar as análises necessárias. Assim, a Geoambiente atua como consultoria especializada, apoiando seus clientes na preparação para atender tanto aos requisitos de conservação e sustentabilidade quanto às normas relacionadas à mudança de uso do solo. Entre as soluções oferecidas às empresas que buscam a certificação ISCC, destacam-se os laudos técnicos com análises completas e evidências claras, apresentados em materiais cartográficos. Conte com a Geoambiente para fortalecer o seu compromisso com matérias-primas produzidas de forma responsável. |
Leia também:
- Guia Prático sobre a Certificação Bonsucro
- Guia Prático sobre a Certificação RenovaBio
- Certificação CARB para biocombustíveis: o que é e como obter?
Engenheira Agrônoma com Mestrado em Sensoriamento Remoto e especialização em Agronegócios e Inovação Tecnológica. Especialista em projetos e certificações ambientais.
